quarta-feira, 16 de abril de 2014

Relações humanas com roupagem tecnológica



     Maria tem olhos verdes, mas queria tê-los na cor castanho-escuro, como os de sua prima Júlia. Carol acabou de pintar as unhas de azul-piscina, mas invejou as da amiga da faculdade que estão esmaltadas de vermelho 40 graus.Joaquim fez Letras, mas queria ter feito arquitetura, como seu cunhado Agenor.
     É bastante notável a mania humana e já tida como comum de achar a sopa do vizinho sempre mais cheirosa, a grama do outro mais verde, a vida do irmão consideravelmente mais fácil do que a sua. O que pode ainda não ser fato notado ou pelo menos, discutido e polemizado é a relação existente entre os meios de comunicação mais tecnológicos e viciantes com essa nossa insistência nata de admirar sempre o que é alheio em detrimento a nossa pouca, quase escassa valorização.
     Simploriamente falando, esse elo agora externado se dá naquele momento épico em que você, usuário de contas eletrônicas, enxerga em sua página de notificações ou feeds uma bela foto cheia de beleza, alegria, fartura, cor...melhorada por uma legenda inspiradora, combinada a "toques" de filtros e edições embelezadores e acaba meio que por impulso, "moda" ou qualquer outra coisa, dando um "like" moderno na imagem recém-postada.

     Essa mesma fotografia eletrônica termina agregando mais de 100 "curtidas" em menos de 1h e você, contribuinte desse pseudo-sucesso pessoal, passa a desejar o mesmo ou almeja até um maior número de likes, a mesma roupa, parecidos cabelos, unhas tão brilhantes quanto, olhos tão azuis quanto as artimanhas photoshopianas conseguiram promover. O primeiro e mais óbvio vértice da interação existente entre comunicação tecnológica X inveja "boa" + falta de amor próprio reflete-se justamente nesse hábito infantil do desejar sempre o que é do outro, o que pertence a outrem e o que não está (ainda) sob nosso domínio e alcance. O outro lado dessa moeda "mais bonita, mais brilhante, mais valiosa que a minha" constitui-se de um dos hábitos mais mau educados e desprezíveis da contemporaneidade: Alimentar amizades separadas por uma tela de celular/computador e fingi-las inexistentes quando passíveis de existirem ou serem nutridas no mundo real. Ainda que a pessoa "amiga" e companheira de teclas esteja lado a lado com o titular das mensagens eletrônicas, essas últimas continuam sendo a opção adotada para o estabelecimento de contato.      Caso essa alternativa não seja a adotada, sem titubear, o detentor do bem eletrônico de última linha e geração, optará por prostar-se diante da tela fria e iniciar um papo baseado nas ações de enviar, visualizar, e também no status enviando...visualizado, a preferir contatar olho a olho com o "amigo" em estado de presença física.

     Ter e não gostar daquilo que se tem concomitantemente a desejar sempre o que não está, naquele momento, a um alcance real virou o lema regente da ditadura tecnológica vivenciada por todos nós, até porque, inclusive os sensatos e dotados de moderação sofrem, involuntariamente, efeitos agressivos e imediatos da invasão eletrônica causadora da substituição daquilo que é natural pelo que é, intrinsecamente,  pertencente ao mundo imaginário, ilusório, fantasioso, mantido por fios e carregadores que trabalham cotidiana e incansavelmente para manter vivas falsas relações humanas regradas a falso preenchimento e hipocrisia.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Os programas do Governo e principalmente as "bolsa" isso-aquilo me dão na paciência! Não é novidade que essa discussão sempre vai longe e vive sendo pauta de muitos debates, alguns formalizados e divulgados na mídia, outros de forma bem interiorizada nos círculos livres de conversação.
Claramente os benefícios totalmente gratuitos do Governo nada mais são que artimanhas desse último pra alienar e enganar ainda mais -se é que é possível- uma massa que já vive manipulada pela mídia-lixo nacional e tenta se disfarçar modernamente de fator de ascensão social, auxílio, incentivo, solução.
Mas, que solução improvisada essa nossa...temos um país em crescimento, dito como semi-periférico, ascendente e que por ter uma administração pública fracassada e imprudente adota as medidas mais desajeitadas e sem sentido imagináveis! Claramente programas pouco planejados e que fornecem a matéria-prima final antes de estimular a passagem honesta por todas as etapas do processos não pode formar trabalhadores! Quanto mais estudantes aplicados!
Como no Brasil os desastres sempre são muitos e esses sãos sempre apoiados em novos deslizes, não bastava o Estado manter viva a política do Pão e Circo através dos programas e bolsas, tinha ainda que se respaldar numa educação cada dia mais flexível e que, muitas vezes, rejeita reprovações em vez de o fazer com alunos pouco disciplinados e sem interesse.
É inegável que certas espécies de estímulo devem ser reavaliadas, pois objetivam resultados diretos e imediatos que pouco sinalizam um crescimento real e uma melhoria que funcione. Pode-se observar que nossa realidade nacional foi , em grande parte, transformada pelos fomentos do Governo; as classes econômicas se misturaram ao ponto se não se poder mais precisar seus limites divisórios. Alguns itens materiais anteriormente pertencentes apenas aos níveis financeiros-sociais superiores, passaram a compôr os desejos de consumo possíveis de pessoas que antes se viam impotentes de adquirirem determinadas mercadorias e/ou serviços.
O problema não concentra-se na mobilidade social causada pelas bolsas governamentais, a questão maior é o comodismo que advém desses incentivos. O aglomerado populacional os entende como sendo uma solução, a "tábua de salvação" sem antecedentes sacrificantes próprios do esforço do trabalho. E essa confiança completa baseada na certeza de recebimento de recursos infundados é o motivo determinante para a construção de brasileiros sem garra, sem vontade de estudar com afinco (e não apenas por obrigação/interesse), de empregados que não são grandes trabalhadores.